Campinas vai ganhar Hospital do Câncer com indenização do Caso Shell
A conquista é resultado da luta do Sindicato dos Químicos Unificados e Atesq contra as multinacionais Shell/Basf pelo crime ambiental que cometeram.
A direção do Hospital do Câncer de Barretos definirá com a Prefeitura de Campinas até o final deste mês o local para a construção de seu novo centro de diagnósticos no entorno do Hospital Municipal Dr. Mário Gatti. A Administração tem como opção três terrenos nas imediações da Avenida Faria Lima, e baterá o martelo em relação ao local nos próximos dias.
A direção do hospital, que é referência nacional no tratamento de câncer, esteve em Campinas na semana passada para visitar os pontos. O Correio apurou que um deles é um campo de futebol ao lado do prédio da Receita Federal. O prédio da Casa de Saúde, na Rua Duque de Caxias, foi descartado pela Secretaria de Saúde. A nova unidade de 2,6 mil metros quadrados terá o diagnóstico de quatro tipos de câncer (colo de útero, pele, mama e pulmão), além de pequenos procedimentos, como punções.
O projeto prevê ainda a compra e montagem de três carretas equipadas para diagnóstico que rodarão a cidade. Ao todo, o investimento será de R$ 69,9 milhões, bancados com parte da indenização por danos morais coletivos pagos pelas empresas Raízen Combustível S/A (antiga Shell) e Basf S/A, no episódio de contaminação do meio ambiente e de trabalhadores em uma fábrica de agrotóxico em Paulínia, que ficou conhecido como Caso Shell. O contrato deve prever a realização de 350 mil exames diagnósticos em cinco anos.
O secretário de Saúde, Carmino Antonio de Souza, afirmou que foi um pedido da Prefeitura que a estrutura fixa ficasse próxima ao Hospital Mário Gatti para facilitar o encaminhamento dos pacientes diagnosticados com câncer para tratamento, como quimioterapia, radioterapia e cirurgias.
O centro de diagnósticos não terá, em um primeiro momento pelo menos, os tratamentos para a doença. O espaço terá uma estrutura administrativa, laboratório e uma área para pequenos procedimentos, como punções e biópsias. Já as estruturas móveis serão equipadas para fazerem exames como mamografias, colonoscopias, tomografias e biópsias. “É como se fosse um mutirão, que vai rodar a cidade, a periferia. A carreta será transformada em um centro de diagnóstico ambulante”, explicou.
Depois da escolha do terreno, Souza afirmou que será necessária a criação de uma lei municipal para doar o terreno ao Hospital do Câncer. A instituição de Barretos será responsável pela contratação de médicos, enfermeiros e funcionários que trabalharão na unidade. “Por isso temos que definir qual será o terreno logo, para darmos andamento em todo o trâmite jurídico e criarmos a legislação. A Procuradoria do Trabalho, acompanha todo o processo, pois é responsável pela ação de indenização”, disse.
Carmino contou também que a direção do Hospital de Barretos queria a construção da unidade em um local periférico, mas o secretário argumentou que um ponto central seria mais interessante à população. “Para não ficar muito distante de qualquer região de Campinas. Eles concordaram”.
O presidente do Hospital Mário Gatti, que conduz as negociações com o Hospital do Câncer, afirmou que procedimentos de alta complexidade, como quimioterapias e cirurgias, continuarão a serem feitos na rede pública de Campinas, como o próprio Mário Gatti, o Hospital de Clínicas da Unicamp e o Hospital e Maternidade Celso Pierro, da PUC-Campinas.
Reportagem: Correio Popular